por Deco Lipe

Dizem que a vida imita a arte. Eu acredito que todas se imitam.
Recentemente escutei três audiolivros na Audible: Quinze dias, Por um milhão de finais felizes e Mais ou menos 9 horas. Sim, todos do escritor gay e best-seller: Vitor Martins. Também assisti ao filme Homem com H, obra biográfica do artista Ney Matogrosso, estrelada pelo ator Jesuíta Barbosa. Mas, o que eles têm em comum?
Coincidentemente, todas essas histórias têm: 1) pai ausente; 2) pais escrotos e 3) mães que: ou cumprem o papel paterno ou “submissas” a pais escrotos.
É muito nítida como a literatura de Vitor Martins dialoga com a realidade de tantos meninos pertencentes à comunidade LGBTQIAP+. “Dificilmente” um de nós não tenha passado por algumas das situações vividas por Felipe, Jonas e Júnior, respectivamente, protagonistas das obras do autor. Conhecer a vida de Ney no filme é bem prova disso. Enquanto Ney, que tem 83 anos, viveu na pele tanta barbaridade com relação ao seu pai, os jovens protagonistas fictícios viveram a ausência ou relações similares ao artista há menos de 10 anos.
No consumo das obras me vi em todas elas. Seja em Felipe sofrendo bullying por ser gordo, em Jonas sendo consumido pelo conservadorismo da igreja evangélica, em Júnior por sua não relação com o pai e em Ney por buscar liberdade por se ser quem é. O que todos nós temos em comum é que temos uma mãe, independente da sua relação, é ela que se preocupa com o que sentimos ou como estamos, concordando ou não em sermos quem somos.
Encontrar-me com essas vidas, fictícias ou não, é perceber o valor que a vida de uma mãe tem em nossa existência. Seja ela um exemplo positivo ou não.
Rita, a mãe de Felipe é o eixo central do jovem. Ela se preocupa com ele do jeito que ele é, cria rotinas juntos sendo uma mãe amável, amorosa e parceira. Enquanto a mãe de Jonas, mesmo sendo gentil e doce, se torna secundária na vida do filho. Ela acredita que o retorno dele à igreja é o melhor caminho para a sua vida, mesmo sabendo do seu desconforto quando frequentava. A sua submissão ao marido faz com que não esteja ao lado do filho quando ele mais precisa sendo conivente aos absurdos que o jovem vive em casa. Já a mãe de Júnior se preocupa com o futuro do filho, principalmente no que diz respeito à sua educação e vida profissional. Beita, a mãe de Ney, é o pilar na vida do artista. O seu apoio incondicional, enfrentando o mundo, principalmente, na infância e adolescência, onde mais sofreu com os abusos do pai. Ela sempre escutou o seu filho, o acolhendo e apoiando arrancou suspiros de uma sala de cinema cheia mostrando que nunca estamos errados por ser quem somos.
Independente da ficção ou da vida real é notória que nessas e tantas outras histórias de meninos LGBTQIAP+ tem uma pitada de mãe cobrindo um pai, pro bem ou pro mal. E sempre aprendemos com elas.
Seja a vida imitando a arte ou a arte imitando a vida, é perceptível que, nesses exemplos, a presença materna é algo que permeia e norteia a vida de qualquer pessoa.